30 de jul. de 2007

era-lhe agradável ao olhar, ao gosto, ao sentir. só precisaria de uma gota. olhou languidamente, nem para erguer as mãos. olhar não cansava tanto, mas ver. seria rápido, sem dor ou algo que lembrasse viver. seria como num sonho em que sabe-se que está sonhando. lentamente ergueu-se, segurou-o entre os dedos e caminhou até a janela. destampou o vidro, sentiu o cheiro e finalmente o gosto. a última coisa que viu foi, entre as cortinas, um céu completamente azul.

17 de jul. de 2007

quando achava que estava ficando louca, tive a certeza. De vez em quando fica-se louca mesmo. ele me contou que o que eu acreditava não era só meu. fiquei perplexa. um pouco. quer dizer que estava certa o tempo todo? quer dizer que para algumas pessoas as coisas são assim? não é segredo, mas é 'íntimo e secreto'. não se pergunta. mas ele me contou. eu não perguntei. distraidamente poderia contar a alguém. não seria meu. seria ao acaso. nem posso dizer que isso me deixa feliz. não se pode ficar alegre com tudo. nem se deve. tem uma menina, que eu amo, que sabe como eu sinto e penso. mas a gente não fala dessas coisas. mas a gente vive. como quando uma vez eu a vi delirar. mas isso é nosso. mas eu não conto o delírio. é que estou encantada por saber-me louca, às vezes. e hoje é um dia que não estou triste. o céu está azul, não intensamente, porque nas bordas dele há um cinza branco clarinho das nunvens que o enfeitam. estarei embaixo do céu e no meio da Terra. e hoje sou completamente dela. TA.

11 de jul. de 2007

você já viveu um dia oco? viu a cor de dias em que você pensa na inexistência das coisas? em nada? no que não existe? e torna o inexistente real? e assim é. sempre é. mas não há nada. porque ou se vê, ou se ouve, ou se sente, seja lá de que jeito for. e se não, não há. é absurdamente simples e triste. assim que se torna o inexistente um é.
mas existe uma sapatilha preta de verniz. e uma moça usando tafetá, organza, tule e fitas.
há uma raiz sobrexposta num terreno inabitado. ninguém vê a lama ou sente o cheiro q dela se desprende. tão pouco a cor.
a moça dança balé. o moço toca piano. senhor e senhora se respeitam pelo ódio que restou.
e algumas coisas são. sempre. outras não. nunca.
'e quase sempre nunca é o bastante.'
(nem sei mais se) gostaria de ouvir um axioma.