28 de jan. de 2010

[enquanto lia... chorava.]
era uma brincadeira tão deles, aquela de brincar com as palavras.
uma brincadeira infantil mas perigosa. mas brincavam.
e chorava por vê-lo brincar de palavras com ela. e chorava porque via-os brincar de um jeito que era pra ser só seu e dele.
porque ele gostava de brincar disso.
mas sabia brincar, mesmo sem sorrir. como quando se sente medo de ser descoberto quando se esconde entre as roupas antigas. e ele brincava escondido. e se mostrava.
e era tão encantador e insuportável vê-los brincando. porque era belo. e ferozmente feio.
e era tão antigo. e tão presente.

E queria ser filha do tempo. E crescer nele. Esquecer.

Mas era tarde. E cedo.

E um fim.

Porque, por hora, queria vê-lo chorar tudo que guardou. Queria que ele afogasse no frio que arrefecia as últimas palavras. As que ele traiu. Roubou-lhe. E ganhou.

E enquanto não crescesse não saberia falar dessas brincadeiras que machucam. Como quando se sente prazer em brincar com a dor. A dos outros. E não se respeita as horas. Passaram do horário. Ficariam de castigo. E chorariam mudos apenas sentindo as feridas arderem tocadas pelo sangue e água. Arranhadas pelas pedras. Enquanto deitavam os corpos nus em nuvens cor de seda.

27 de jan. de 2010

mostrou-me o coração e disse que não era seu. mas que eu guardasse. era presente. não pra mim. para uma amiga. mas não era dele, apenas guardava. acreditei. esqueci. e sem querer ele derramou-se em mim. reconheci o gosto, o cheiro, a cor. era seu. era isso que o meu dizia. sentia. sabia.

engraçado, eu sempre soube e nem sabia.

21 de jan. de 2010

a
ç
a
m
u
f

aquele sentimento virou
o futuro virou
o passado virou
o presente não era.

havia ouro colorido.
pó soprado.
nuvens elétricas.

e terra.
vertigem.
elementos naturais desintegradores.
explosão...
fim para o novo.

descascou batatas por pura poesia e sentimento.
do que retera.
o que guardava.
um relicário.

gavetas.

20 de jan. de 2010

[estou cheia daquilo que não posso te mostrar. por mais que queira.]
haverá um lapso no tempo.
chegou ao supermercado um pouco desbaratinada. estava cheio. sentia fome. abriu um pacote de salgadinho, uma garrafa de água com gás. chicletes.
e num espalhar branco pelo estômago lembrou da panela com agua fervendo na sua casa.
fechara a porta. fechara? sim!
precisaria voltar correndo. mas não pagara ainda e havia aquelas 12345 pessoas na sua frente. ele era alto, bonito. daqueles que você só de olhar pensa. deu-lhe uma nota de vinte com o seu telefone escrito. disse que se ele ligasse ela poderia explicar tudo. ele recebeu. e continuou na fila.
enquanto voltava, aflita, pareceu dar de cara com um sólido invísivel. que estúpida! enfim.
sofria antecipadamente com as consequências daquilo que não deveria ter feito. fez. fazia.
vivia dizendo não ao que queria que assim o fosse. que tonta! o fogão estava desligado. o telefone tocou. era o troco. poderiam tomar uns chopps com ele. e assim o fizeram.
e aos poucos foram surgindo as mentiras. o acre.
sucessivamente.
moscas.

19 de jan. de 2010

alimentou a alma. antiga.
pensou um dia inteiro. quando se deu conta.
arrancava as palavras como quem 'bemequera'.
quando o que queria era senti-las como quem desliza num fio e sabe ser 'beijaflorado' no dia.
e elas saiam quadradas, dolorosas.
e porque não reconhecia o mundo, negando-o, não o compreendia.
porque não olhava...
e entregou um brinquedo ao gato. e sentia aquilo que escorre pelo corpo e não se sabe se por dentro ou fora.
e tudo que queria era saber verdaluzar a luz.

e havia erva daninhas...
[e o necessário equilíbrio]
dos fragmentos.
não aconteceu.
catarse.

18 de jan. de 2010

ele me disse que o domingo era bom. feito criança. seria.
eu contei pra ele coisas de uma quinta-feira.
e insinuei segredos da segunda.

a gente lembrou.

fp era sábio. entendia o tempo. o que se vê. e distraia-se dele naturalmente.

e se tudo acabar? e se for mesmo assim? o agora é ilusão... passagem. o que significa? ou tudo significa, apenas nada.
[e de que adianta se importar?]

era uma vez uma mulher. e ela tinha sentimentos. mas escondia. e fingiu toda uma vida. e não havia pressa nela.
numa noite sentiu medo. e imaginou-se numa floresta. o medo se foi. ficou um rastro de loucura. como carrinhos vermelhos passeando por estradas imaginárias. riscadas por um inventor.
sentia uma fome vermelha e fresca.
e precisava encher-se do inexistente. e de si.
de vez em quando lembrava como é difícil perdoar. esquecer. sobreviver. comer.

17 de jan. de 2010

e nesse dia não precisou implorar aos céus. sua existência preencheu um dia inteiro.
antes do vazio.
e ficou tão deslumbrada com o presente.
e muito tempo depois lembrava dele. e distraiu-se.
[inspirar...]

eles estavam ali e de repente, não mais.
e o espetáculo enternecia os que continuavam.

porque o mundo não parava de girar.

aqui.
ali.

10 de jan. de 2010

desculpa-me, abri suas gavetas. Vi as cartas, todas as dedicatórias.

entre curiosa e culpada te peço perdão.

percebi que o que mostravas era tudo 'que querias que eu visse.

encantei-me, entretanto. emocionada, quase derramei lágrimas.

por fim vi teus olhos. eles me acusavam.

então fiz o meu papel e fingi que não era comigo.

no domingo, perambulei, arrastei-me.

fiz a lista.

escutei ac acalentando dores de cotovelo debruçada e aérea. pela janela vi que você não passava.

e lembrei que sabíamos sorrir.

pela janela...

enquanto você acenava pra mim...


e enquanto lembrava fui segurando com carinho e guardando tudo numa caixinha.

e nunca entenderia a razão pela qual não estudara física quântica.

e percebia o quanto já sabia.

e havia aquele sentimento de amor.

e era um tanto quanto paranormal.

bastava estar vivo.


e sentiu-se em paz ao ler que o santo admira muito mais o cordão que une as pérolas.

...