22 de out. de 2008

seria pardal aqueles passarinhos na varanda dela? já criara canários. esse gosto devia ser herança de um papagaio que tivera na infância. uma vez comeu carne de tatu, achou dura. as pessoas têm preferência por alguns bichos. é cultural. onde já se viu? um sacrilégio comer carne de vaca. escorpião torrado ou patola de caranguejo? urubu da terra ou urubu do mar? na hora da fome pode ser papelão, cola, revista colorida. dá pra fazer um mosaico, um quebra-cabeça, jogo de memória. consumível, reciclável. brincar de viver. aquela mulher daria pra fazer um livro. ela imaginava a avenida toda enfeitada com cordões e vidrilhos pendurados de um poste a outro. seria mais bonito dizer adeus assim. era uma típica pessoa típica. previsível sob o poder, como quase todos que se corrompem. não se assustou quando seu passado secreto foi revelado. sabia que possuía dentes, poderia morder. o fato é que aquele passarinho imitava todos os outros, parecia vulgar, além de cosmopolita. dizem que o canário canta para atrair a fêmea, enquanto essa, pia. do rouxinol, o imperador. há um pássaro cívico. e o bem-te-vi lembra infância e margarina. em alguns lugares era hábito jogar borboletas sobre os noivos após a cerimônia. plácida manhã barroca do dia em que o sol entra em escorpião.

17 de out. de 2008

era uma caixinha pequena. agradeceu com os olhos marejados. desatou a fita, rasgou o papel. abriu a caixinha e achou muito lindo vê-las sobre o azul. eram duas. receber é bom. (foi quando um soluço que não pode segurar rompeu e balançou seus ombros caídos).


arrependeu-se do que dera. não queria de volta. eram coisas estragadas. depois de secar as lágrimas encheu-se de coragem e percebeu que não sendo árvore não haveria fruto ou flor, não era a sua natureza essa. Mas havia os sentimentos. havia o pedido. havia a vergonha. e por fim a certeza. recolheu o que precisava e não precisou falar. a vida mostra. esperou.



um dia encontraram folhas secas pelo chão... cada tempo, sua estação.

16 de out. de 2008

começou na pontinha do dedo mindinho. coisa que se pega. aquelas que não são boas de se ter. é pesado. ninguém via. incomodava pouco. quando menos se esperou invadiu as coxas. saias longas. tudo pode ser escondido, menos o que se traduz no que o olho mostra. e um dos olhos ficou intacto. era uma janela mínima, mas uma possibilidade. mínima. morreu disso.

10 de out. de 2008

imagine uma nuvem branquinha. você deita, sente a maciez e ela te leva sobre planícies, mares, lagos e montanhas encantadas. você vê fadas e duendes. você dorme e sonha que tudo não passou de um sonho. acorda num susto e quase cai das nuvens. então chove. e você abre asas com listras coloridas que enfeitam o céu feito um arco-íris. e voa pra um lugar perdido. eternamente perdido. então você cresce. rápido demais, sem tempo... descobre que a nuvem era doce e vc nunca provou. que se tivesse mergulhado viraria Iara.

2 de out. de 2008