17 de ago. de 2007

Ela passara dos trinta. claramente vivera tempo demais, coisas demais. havia coisas nela que só quem lesse os mesmos livros entenderia. era recatada, pacata, discreta. vivia só. não tinha amigos, nem amor ou parentes. ela não existia a não ser para o gato, que nem dela era, mas a quem não sabia negar um prato de leite. ela não negava. e nisso estava seu contrário porque ao não negar ela negava o não. ela era quase uma 'mcabéia' ao contrário. mas não era. um dia, num susto de cair quase tonta no chão, deu-se conta de sua não existência. desse dia em diante tornou-se quase que uma obrigação abrir os olhos e afastar levemente as cortinas para ver o céu, abrir as janelas pra sentir o vento, sorrir ou estirar a língua para uma criança, sentir entre os dedos ou sob eles sua essência mofada. assim evaporou-se. nasceu. e gritou. e finalmente entendeu o significado das palavras morte, mudança e vida. colheu-se. simplesMente. e tudo sem um gosto ínfimo que fosse da dor.

13 de ago. de 2007

ela deveria ter contado. era um segredo funesto. [como no filme em que a mocinha contava sobre os crimes do pai, mas o mocinho dormindo não escutava pois por engano tomara sonífero]. e isso seria [um átimo de] salvação. ela deveria ter contado.

7 de ago. de 2007

fazia tempo que vivera um sonho tão agradável. abriu os olhos e percebeu um sorriso leve no canto esquerdo da boca. tocou os lábios levemente. gostava de sentir. esfregou os olhos e caíram as escamas. por baixo de tudo havia uma pureza macia. chorou por sete dias. secou. nesse iterim viveu de sonho. os sonhos não duram para sempre. mas esse em especial adormecia seu ser. era bom. 'sonhos são como nuvens'. quando desperta e ainda feliz do que fora pensou que brevemente ficaria cansada e voltaria a dormir. sonharia novamente. viveria de silêncio por enquanto.