4 de jun. de 2007

pensou na história do pé e dos filhos dedos. e pensou que se o pé fosse uma raiz alguém poderia arrancá-la a qualquer momento. já vira acontecer antes. e quando se arranca uma raiz, não tendo-se cuidado, morre-se. mas se raiz e viver plantada ou se raiz e ser arrancada? morre-se de qualquer jeito. às vezes o que se tem é mais tempo. mas morrer não é o fim. transformar-se é a morte do que foi. a vida é um ato em suspenso. cuidado ao atravessar a rua. cuidado com a casca de banana. vive-se por cuidado. se tivesse escrito. mas é absurdo demais. é tudo absurdo demais. não agradecerei por cuidarem da minha vida e saberem exatamente como devo viver, o que devo fazer ou pensar. é tudo muito absurdo mesmo.

P.S. farei um buquê pra você. enrolarei com folhas de poesia. e nas flores misturarei as letras do que sinto só pra você decifrar.

2 de jun. de 2007

...Então, suavemente, fechou os olhos. Levantou-se. Caminhou pela sala. Queria sentir em suas mãos o gosto das coisas. Sorvia o perfume dos cantos. Inclinou-se, abriu a boca e com a língua sentiu a frieza de uma superfície lisa, metálica. Sentiu os contornos. Moveu lentamente a língua de baixo pra cima num longo gesto. Levantou-se e, levemente tonta, caiu em pé sobre a parede. As mãos puseram-se a sentir a aspereza macia e meio aveludada do que não via. Uma leve dor instalou-se sobre seu ombro esquerdo. Agachou-se e deitou-se espalhada no pelo macio. Enroscou-se sobre si mesma e chorou. Chorou o silêncio da pergunta sem resposta. Chorou as respostas que não perguntou. Chorou a presença daquela ausência dolorosa. Chorou e finalmente chorou. Da sua alma um botão que mais tarde chamou de alívio, de certeza. E pensou que não trocaria por nada ou por o tudo que lhe oferecessem, aquela sensação de estar viva e sentir dor. Porque isso provava sua existência. Então abriu os olhos e não viu mais nada.

1 de jun. de 2007

Eu queria que isso ficasse entre nós. Não entendo por quê você contou. Era segredo. E agora acho bobo o que era. Só você sabia. E eu. Era o que nos fortalecia [ela disse a mim uma vez falando de segredos e sentir]. Meus pés não são bonitos. Guardo as coisas que gosto numa caixa. Um dia abro a caixa e tudo que ali havia se guarda dentro de mim. Nessas horas fico bela. E até meus pés ficam bonitos. Mas eu não me importo de verdade. E fico até com medo de ter um gato. Tem dias que tudo tem sentido. Te convido para um chá. Comemos biscoito e bolo. Te convido pra um vinho. Ficamos meio embriagados. Te convido pra uma sopa. Lemos poesia. Tem dias que a gente fica triste. Tem dias que a gente fica alegre. Tem dias que a gente não sente nada. Tem dias que faz sol. Tem dias que chove. Tem dias que a gente não lembra. mas apesar de feios os meus pés me aquecem. é por eles que me nasce o calor quando sinto frio. e é por eles que sinto o mar primeiro. eles me sustentam. e com eles percorro a minha vida...