2 de jun. de 2007

...Então, suavemente, fechou os olhos. Levantou-se. Caminhou pela sala. Queria sentir em suas mãos o gosto das coisas. Sorvia o perfume dos cantos. Inclinou-se, abriu a boca e com a língua sentiu a frieza de uma superfície lisa, metálica. Sentiu os contornos. Moveu lentamente a língua de baixo pra cima num longo gesto. Levantou-se e, levemente tonta, caiu em pé sobre a parede. As mãos puseram-se a sentir a aspereza macia e meio aveludada do que não via. Uma leve dor instalou-se sobre seu ombro esquerdo. Agachou-se e deitou-se espalhada no pelo macio. Enroscou-se sobre si mesma e chorou. Chorou o silêncio da pergunta sem resposta. Chorou as respostas que não perguntou. Chorou a presença daquela ausência dolorosa. Chorou e finalmente chorou. Da sua alma um botão que mais tarde chamou de alívio, de certeza. E pensou que não trocaria por nada ou por o tudo que lhe oferecessem, aquela sensação de estar viva e sentir dor. Porque isso provava sua existência. Então abriu os olhos e não viu mais nada.

Nenhum comentário: