26 de dez. de 2007

penas. brilhos. pés. pó.
ver e sentir.
pensar e não estar ali.
Fernando Pessoa tinha razão.

escreve uma carta me chamando de Ofelinha como ele fez...

9 de dez. de 2007

havia vida e essa era como quando pula-se de uma cobertura em câmera lenta [como em m]. ...constantemente e em pequenas explosões que se fazem ver. não fazia as tarefas de casa. gostava de sair à rua olhando pro verde e azul em dias amarelos. no ônibus, um piano e violino formavam um dueto calmo e alegre. ouvia-se o bebê balbuciar sons gostosinhos de sentir. por fim o ônibus descansou sob a sobra de um Ipê.






[uma vida inteira que te trouxe até esse momento em que o fio desprende-se e eu o guardo]

7 de dez. de 2007

olhos 'rubi' que fecham-se para escutar o vento na pipa que não está.

17 de nov. de 2007

Ouviu uma historinha de linhas paralelas que puxavam para si o infinito. nele se encontravam. E depois disso riu jogando a cabeça para trás. riu pensando se as linhas eram horizontais ou verticais e se isso importava. queria mais era falar do pó da asa da boboleta que fica preso na ponta dos dedos.

15 de nov. de 2007

enquanto comia as sobras frias imaginava o que faria com as sementes que ganhara. era preciso plantá-las. copiar alguns poemas. fazer cartas de amor e desenhos. bolachas dentro da validade. roupas. pacotes fechados com delicadezas de ver e tocar. um luxo de lixo.

9 de nov. de 2007

a chuva nos olhos vazios 'blade runner'...

8 de nov. de 2007

chuva amarela...
e quem como eu correria pelo asfalto pra ser tocada pela flora amarela?

menina triste...
o que vêem esses olhos perdidos de vazios?

ser...
pre-encher com o que ainda não aceitou de completamente seu...

assim... quase que já...

(ainda)

6 de nov. de 2007

era... que se contentava com um céu cinza ou azul, algumas espatódias caídas na calçada ou... era-lhe pouco o necessário para ser (quando sentia)...
é uma ela que se pergunta se excesso de azul do céu faz mal pra alma.
era... de incertezas certas, mergulhos internos, vôos que explodiam em gritos de...
é... uma agora que não sente como antes (S-I-M-P-L-E-S-M-E-N-T-E)
porque o que via era, agora vê outras coisas...

[amiga, pra isso existe 'o medo da eternidade', porque sentir é procurar... sabia? (e vice-versa)]
(ainda bem que você existe)

1 de nov. de 2007

"prefiro o barulho do mar"

31 de out. de 2007

----era uma vez uma puta que se fudeu na vida e como não sabia 'dançar um tango argentino' resolveu entrar pr'um convento. ficou extremamente sexy de cabelos curtíssimos. a madre gostou, o padre também. não havia nada a fazer. mudou-se pra Argentina e aprendeu a dançar tango.-----

30 de out. de 2007

porque isso não é pra qualquer um não. tem que ser brega. tem que andar de ônibus e gostar. tem que. mentira. é pra qualquer um. é que eu não queria dizer. mas certas coisas precisam ser vomitadas. pra que ficar guardando? eu não gosto de pagode. e não consegui ser kitschi o suficiente pra gostar de brega, mas confesso que tenho um pinguim de geladeira. é o seguinte. eu me apaixonei. certo. o que você tem a ver com isso? a-b-s-o-l-u-t-a-m-e-n-t-e nada. mas e daí? e não é só isso. houve uma troca sabe? pois é. agora eu tô naquela fase de roer e perguntar : "-o que aconteceu? como você deixou de me amar?" na verdade essa fase passou. e passou também aquela de agradecer por ter vivido esse amor. o que não passou mesmo foi o amor. ainda bem. porque amar inspira vocês sabem né? mas é um negócio que não é pra qualquer um não. é que eu tava no ônibus hoje e a moça do meu lado ouvindo uns bregas e o cara da frente cantando junto e eu pensando: 'esse povo num tem coisa melhor pra viver não?' sei lá. tem? lógico! por fim a gente descobre que é humano. que é tudo igual. mas é igual mesmo. a gente só precisa agir diferente. ah! e quando alguém jogar algo é melhor jogar de volta. é bem melhor do que sair pela tangente, ou pegar e depositar num cantinho. e no fim se te perguntarem você viveria novamente? responder sempre: 'claro! o mundo é vasto!'.

26 de out. de 2007

era uma vez uma menina que conheceu uma ovelha que não gostava do que via quando olhava sua imagem no lago. com a ovelha a menina aprendeu que de vez em quando todas precisam ser tosquiadas. num cartão postal ela viu uma fada que se apaixonou por um menino triste. eles nunca se pertenceriam. encontraram um jeito transformando o menino. afinal uma fada que se preze tem poderes. era imensamente feliz de vez em quando. porque via coisas belas e simples. era imensamente triste, às vezes, porque sentia. era uma pessoa bem normal...

24 de out. de 2007

certas coisas deveriam ser faladas e cridas. pronto. seria fácil e indolor. de vez em quando a gente lê e acredita. é quando já tem vivido. às vezes não entende o que lê. não entende o que vê. não vê. mas se fosse somente acreditar seria como não pensar. era não sentir. como quando deixa-se de fazer porque é proibido e não se questiona por que é proibido. tem sido o que sempre foi. "faça apenas o que você quer".

23 de out. de 2007

"
Para a tristeza

Companheira, sei que você vai chorar quando ler esta carta, mas quero deixar de ver você por uns tempos. Vai ser difícil para mim, pois me acostumei à sua presença, porém não vejo mais motivos para continuarmos juntas. Não nego sua importância; em diversos momentos difíceis da minha vida você permaneceu comigo, mesmo quando todos seafastaram. Só que, com você, sinto que não ando para a frente. Esse seu pessimismo me atrapalha.Tenho tentado evitar você de todas as maneiras, e isso não é legal. Ainda mais porque sei que se magoa por qualquer coisinha. Mas basta você chegar e lá se vai minha alegria. Não agüento mais os seus assuntos mórbidos, a sua cara desanimada. Até sexo, com você, ficou sem graça. Nada mais broxante do que gente que chora durante a transa.Perdi anos de minha vida ao seu lado, tristeza, acreditando em tudo que você dizia. Que o amor não existe e o mundo não tem jeito. Você é péssima conselheira para suas parceiras - que o digam a Marilyn e a Sylvia*. Agora, chegou a hora de dar chance à alegria, que há muito tem mostrado interesse em passar uns tempos comigo. Ela me elogia, sabe? Você? O único elogio que eu lembro de ter ouvido de você foi que eu fico bem de olheiras.Veja bem: não estou dizendo que quero acabar com você para sempre. Sei que estou presa a você, de uma forma ou de outra, pelo resto da vida. E podemos muito bem ter os nossos momentinhos juntas, aos domingos ou em longas tardes de poesia. Só não posso é continuar à mercê dos seus péssimos humores, dia após dia, sabendo que você nunca irá mudar. Chega de fornecer moradia à sua pesada existência.Desde pequena, abro mão de muita coisa pela sua companhia. Festas a que não fui porque você não me deixou ir, paisagens lindas nas quais não reparei porque você exigiu de mim total atenção, amigas que perdi porque insisti em levar você comigo a todos os lugares. Ora, tristeza, tente ao menos ser mais leve. Sorria de vez em quando, pare um pouco de se lamentar. Ou vai continuar sendo assim: ninguém querendo ficar com você. Não vou cobrar o que deixei de ganhar por sua má influência, pois sei que tristezas não pagam dívidas. Mas quero de volta meus discos de dance music, que você tirou da prateleira. E minhas roupas estampadas, que sumiram do meu armário depois que você se instalou aqui.Por favor, não tente entrar em contato comigo com as mesmas velhas razões de sempre. Não é a fria lógica dos seus argumentos que irá guiar meu coração daqui por diante. Quero ver a vida por outros olhos, que não os seus. Quero beber por outros motivos, que não afogar você dentro de mim. Cansei da sua falta de senso de humor, do seu excesso de zelo. Vá resolver as suas carências em outro endereço.
Como me disse o Lulu, hoje de manhã, no carro, a caminho do trabalho: "Não te quero mal, apenas não te quero mais".

Bye-bye,

Fernanda


*A autora refere-se à morte da atriz Marilyn Monroe e da poetisa Sylvia Plath.
Fernanda Young é escritora, roteirista e apresentadora de TV

"

21 de out. de 2007

de tudo que vale à pena, sentir.
[apesar de, apesar de.]

ouvi a história de uma senhora que vivia sozinha numa casa e um dia comprou uma flor que colocou num quarto embaixo de um ventilador de teto. foi amor à primeira vista. ele girou pela florzinha. mas ela nem deu atenção a ele, bonita como era quis nem saber. mas ele fez de tudo, girou em todas as velocidades, inundou todo o espaço com o seu toque. a flor depois de um tempo não pode se fazer mais de indiferente, começou a retribuir. e foi só troca... ela cada dia fazia nascer uma flor mais bonita pra ele. mas entre eles havia uma impossibilidade. se esforçavam muito mas não conseguiam se tocar. mas isso era um detalhe (dos grandes). com o passar do tempo a senhora esqueceu a florzinha lá no quarto, nem tão pouco ligava o ventilador... nas hélices havia uma camada grossa de poeira. a flor estava quase morrendo na terra seca. mas quem ama, quem vive a magia sabe que o milagre salva. com todas as suas forças, o ventilador girou como nunca havia feito, era quase impossível mas ele girou com tanta força que a casa interia tremeu, o teto cedeu, ele desprendeu-se do teto fazendo um buraco imenso por onde a chuva entrou e saciou de vida a florzinha, por um único instante eles se tocaram. o ventilador girou até o céu. a florzinha floresceu hélices maravilhosas que desprenderam-na do chão. ela estava livre. as hélices-flor eram lindas. "Nosso amor... Já é grande o bastante Pra deixar a gente viver".

18 de out. de 2007

mais uma quinta. tudo certo. o sol brilhando. a roupa azul. um lugar mais tarde. aquela pessoa. tudo certo. só tem uma coisa, uma coisinha fora do lugar. como alguém pode ser tão perverso?

13 de out. de 2007


se eu fosse poeta...
minha dor seria amor
minha alegria teria cor de flor
(cores vibrantes feito o chale amarelo que me agasalha agora)
-mas eu sinto-
sou uma pessoa normal e na minha casa não tem um 'lustre'
*reviver [ao contrário] é reviver*




alguns chamam de mágica... também destino... ou pura putaria... mas as coisas acontecem .... é isso. é bom.. tá valendo... desde que... ou não... as vezes é preciso algo que acelere o processo... noutras vezes é a verdade .. mas nem sempre tem coerência... como agora...

11 de out. de 2007

- bom dia!
- ...
- boooooom dia!!!!!!!!
- bom dia...
- vou aumentar o som tá?
- faça o que...
- ADORO ESSA MÚSICA!!!!!!
- percebi...
- adoro essas cores, essa luz, esse dia...
- você é meio doida!
- meu filho, eu amaria até o cinza do dia e o meu cabelo encolhido se hoje tivesse chovendo.
- quer saber? vou com você!
- quer mais? você jamais viverá isso novamente. esse momento... que foi.
- já sei! o café hoje é na padaria.
- ...
- ...
- você lembra se eu desliguei o som?
- lembro sim. eu desliguei. você é meio aérea em dias como hoje, por isso não te deixarei sozinha um instantinho que seja.
- 'enquanto houver você de um lado, do outro eu consigo me orientar'
- você viu? o poeta entregou chocolates finos a mulher que vive na praça.
- as sombrinhas dela têm cores lindas. adoro a cortina do banheiro também.
- acho que hoje conseguiríamos voar.
- lembrei do ventilador e da flor... foi lindo ver que em algum lugar há pessoas como nós. lembra do ventilador e da flor apaixonados?
- eu quebraria o teto pra que a chuva chegasse até você...
- olha...! viu?
- é perfeito...
-.. nosso
-.. e único...
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P.S. 'porque hoje é quinta' e que o sábado seja do nosso 'poetinha'...

9 de out. de 2007

a exata palavra e momento. a conjunção.
o jarro era de cristal, o gato veio do Irã e sem dó nem piedade, por puro ciúme mesmo, enroscou-se nele. um pó transparente que por um instante foi como um sopro do deus. pó molhado, luminescência nas lágrimas.

5 de out. de 2007

havia a história de um novelo prateado que tinha a magia de adiantar o tempo à medida que era desenrolado. havia Drummond falando da velocidade do tempo. co-incidência (fatos).
se não está escrito só resta o tempo mesmo.
['a resposta está na pergunta?']
o tempo feito de filosofia.
...mas todo mundo conversava quando ficava sozinho. e ninguém via as mesmas coisas, mesmo que mostrassem.

Levantou-se cedo, tomou um banho gelado, vestiu uma roupa leve, bebeu um café quente e forte, passou filtro solar fator 30, foi caminhando pro trabalho. o sol na pele, a poeira nos pés. viu a marca do tempo numa pessoa. miséria e cegueira. e o deus disse: me escolha.
finalmente vomitou.

3 de out. de 2007

era uma vez uma menina que tinha um mistério redondo e profundo que não cabia dentro do mundo, não estava escrito no dicionário e não era o que todo mundo pensava.
certo dia viu-se diante de três caminhos, escolheu o do meio e passeava nele olhando para os lados e vendo tudo que havia perdido. Assim nem percebeu o que havia na sua frente e nem o que deixara para trás. quando finalmente o caminho acabou estava de mãos vazias, com fome, sede e frio. resolveu voltar mas as coisas já não estavam mais lá e nem dos lados. então usou suas asas.

28 de set. de 2007

[os dedos acariaciando o rio.
um rio que passa, mas está sempre, enquanto assim desejar-se sentir.]



Era uma vez uma menina com sorte e azul que vivia numa cidade cega e cinza catando palavras e imagens e encontrando pedras no rio.

26 de set. de 2007

[na busca está o encontro]

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Era uma vez uma menina que foi enterrada viva. Em cima do seu túmulo nasceu capim de cabelos. Em noites de lua cheia eles prateavam e podia-se ouvir uma voz triste, abafada e suave que não soava como palavras encobertas de possibilidades e desfazia-se nós apenas sentidos, como um trauma.

25 de set. de 2007

a gente tava falando do ciclo vicioso da vida. [muito vício ali neles]. lembrei da menina explicando a lei da sobrevivência, que é preciso devorar para sobreviver.
*coisas a fazer:
vomitar tudo;
gritar até perder a voz;
não escutar;
(chorar até secar);
[e não esquecer das luvas de boxe];
recompor-se;
... que fica tudo bem.

24 de set. de 2007

será que aguenta?
basta não olhar ao redor.

olhe pra'quelas "carreiras de fios elétricos" e imagine a música que a lua toca pra você hoje. qual nota será? tudo começa com uma clave de Sol.

enquanto você dorme, canta. enquanto sonho, escuto.

21 de set. de 2007

apreciar o sabor seja ele qual for.
só depois de ter bebido o doce amargo pensou na possibilidade de não prová-lo novamente. só depois soube. quem sabe um dia apareceria alguém com outro cálice daqueles. vai saber. mas isso foi depois de muito tempo.

aquela criatura sempre estava lá. de vez em quando e quase sempre em silêncio que era sua forma de falar. numa tarde laranja-quente de uma brisa cinza na pele ela provou. junto com o que não parecia agradável saiu tudo que havia por dentro d'uma só vez. então percebeu que o vazio é o que fortalece e enfraquece uma criatura, essa hora de força nehuma e de todo o espaço necessário pra o que escolher.
nascia-se sempre. cada vez que morria.

19 de set. de 2007

[olhe novamente.
sente?
percebe?
só morrendo mesmo pra saber. "os mortos sabem mais que os vivos. sabem o gosto que a morte tem".
serve?
a flor de lótus é quem dá sentido. Maya.]
era uma vez uma vontade de sair e morrer. então uniu uns seres e fez-se. gastou a matéria e percebeu que o único lugar que existia era de onde tinha vindo. voltou. mas fez-se sempre.

'é uma alegria tamanha. como aquela em que a moça mergulhou as 6:00 h no mar gelado. isso que era só dela. o que é que você tem e ninguém rouba?'

as cores que tocaram a pele. enquanto ela caminhava distanciava-se do que queria ver. e quando se voltava via e sorria. ainda bem que tinha alguém pra segurá-la quando tropeçou. e tudo, finalmente, reiniciou.

17 de set. de 2007

sobre viver.
num mundo tão antigo certas coisas não têm nome. é a elas que sobrevivemos.

[e tem aquele menino que nem percebe como é feliz (ou alienado?) na sua grande bondade]

10 de set. de 2007

a. f. m.
no meio do cinza e abaixo dele, todas as cores do mundo em você. nas asas e no declive pra chegar perto. na procura o encontro em tudo que os olhos tocaram. a textura de se ver. foi tudo por você. o sabor nos dedos. tudo, tudo por você. interiamente por você.
t.a.

5 de set. de 2007

um nariz de palhaço.
uma borboleta amarela.
ele e a chuva.
paciência...

2 de set. de 2007

dessa matéria que ela era. uma matéria com tempo de validade. o que fazer enquanto o tempo nos dá tempo é que se chama viver. e procuro diariamente um algo que me faça rir mas sem perder a angústia. porque não há o que ser feito. mediante ela. e se isso que se grita não é um lamento é um quase lançar-se ao precipício. o tamanho do universo caberia em meu pensamento? e é maior que isso...


[sem fim...]

17 de ago. de 2007

Ela passara dos trinta. claramente vivera tempo demais, coisas demais. havia coisas nela que só quem lesse os mesmos livros entenderia. era recatada, pacata, discreta. vivia só. não tinha amigos, nem amor ou parentes. ela não existia a não ser para o gato, que nem dela era, mas a quem não sabia negar um prato de leite. ela não negava. e nisso estava seu contrário porque ao não negar ela negava o não. ela era quase uma 'mcabéia' ao contrário. mas não era. um dia, num susto de cair quase tonta no chão, deu-se conta de sua não existência. desse dia em diante tornou-se quase que uma obrigação abrir os olhos e afastar levemente as cortinas para ver o céu, abrir as janelas pra sentir o vento, sorrir ou estirar a língua para uma criança, sentir entre os dedos ou sob eles sua essência mofada. assim evaporou-se. nasceu. e gritou. e finalmente entendeu o significado das palavras morte, mudança e vida. colheu-se. simplesMente. e tudo sem um gosto ínfimo que fosse da dor.

13 de ago. de 2007

ela deveria ter contado. era um segredo funesto. [como no filme em que a mocinha contava sobre os crimes do pai, mas o mocinho dormindo não escutava pois por engano tomara sonífero]. e isso seria [um átimo de] salvação. ela deveria ter contado.

7 de ago. de 2007

fazia tempo que vivera um sonho tão agradável. abriu os olhos e percebeu um sorriso leve no canto esquerdo da boca. tocou os lábios levemente. gostava de sentir. esfregou os olhos e caíram as escamas. por baixo de tudo havia uma pureza macia. chorou por sete dias. secou. nesse iterim viveu de sonho. os sonhos não duram para sempre. mas esse em especial adormecia seu ser. era bom. 'sonhos são como nuvens'. quando desperta e ainda feliz do que fora pensou que brevemente ficaria cansada e voltaria a dormir. sonharia novamente. viveria de silêncio por enquanto.

30 de jul. de 2007

era-lhe agradável ao olhar, ao gosto, ao sentir. só precisaria de uma gota. olhou languidamente, nem para erguer as mãos. olhar não cansava tanto, mas ver. seria rápido, sem dor ou algo que lembrasse viver. seria como num sonho em que sabe-se que está sonhando. lentamente ergueu-se, segurou-o entre os dedos e caminhou até a janela. destampou o vidro, sentiu o cheiro e finalmente o gosto. a última coisa que viu foi, entre as cortinas, um céu completamente azul.

17 de jul. de 2007

quando achava que estava ficando louca, tive a certeza. De vez em quando fica-se louca mesmo. ele me contou que o que eu acreditava não era só meu. fiquei perplexa. um pouco. quer dizer que estava certa o tempo todo? quer dizer que para algumas pessoas as coisas são assim? não é segredo, mas é 'íntimo e secreto'. não se pergunta. mas ele me contou. eu não perguntei. distraidamente poderia contar a alguém. não seria meu. seria ao acaso. nem posso dizer que isso me deixa feliz. não se pode ficar alegre com tudo. nem se deve. tem uma menina, que eu amo, que sabe como eu sinto e penso. mas a gente não fala dessas coisas. mas a gente vive. como quando uma vez eu a vi delirar. mas isso é nosso. mas eu não conto o delírio. é que estou encantada por saber-me louca, às vezes. e hoje é um dia que não estou triste. o céu está azul, não intensamente, porque nas bordas dele há um cinza branco clarinho das nunvens que o enfeitam. estarei embaixo do céu e no meio da Terra. e hoje sou completamente dela. TA.

11 de jul. de 2007

você já viveu um dia oco? viu a cor de dias em que você pensa na inexistência das coisas? em nada? no que não existe? e torna o inexistente real? e assim é. sempre é. mas não há nada. porque ou se vê, ou se ouve, ou se sente, seja lá de que jeito for. e se não, não há. é absurdamente simples e triste. assim que se torna o inexistente um é.
mas existe uma sapatilha preta de verniz. e uma moça usando tafetá, organza, tule e fitas.
há uma raiz sobrexposta num terreno inabitado. ninguém vê a lama ou sente o cheiro q dela se desprende. tão pouco a cor.
a moça dança balé. o moço toca piano. senhor e senhora se respeitam pelo ódio que restou.
e algumas coisas são. sempre. outras não. nunca.
'e quase sempre nunca é o bastante.'
(nem sei mais se) gostaria de ouvir um axioma.

4 de jun. de 2007

pensou na história do pé e dos filhos dedos. e pensou que se o pé fosse uma raiz alguém poderia arrancá-la a qualquer momento. já vira acontecer antes. e quando se arranca uma raiz, não tendo-se cuidado, morre-se. mas se raiz e viver plantada ou se raiz e ser arrancada? morre-se de qualquer jeito. às vezes o que se tem é mais tempo. mas morrer não é o fim. transformar-se é a morte do que foi. a vida é um ato em suspenso. cuidado ao atravessar a rua. cuidado com a casca de banana. vive-se por cuidado. se tivesse escrito. mas é absurdo demais. é tudo absurdo demais. não agradecerei por cuidarem da minha vida e saberem exatamente como devo viver, o que devo fazer ou pensar. é tudo muito absurdo mesmo.

P.S. farei um buquê pra você. enrolarei com folhas de poesia. e nas flores misturarei as letras do que sinto só pra você decifrar.

2 de jun. de 2007

...Então, suavemente, fechou os olhos. Levantou-se. Caminhou pela sala. Queria sentir em suas mãos o gosto das coisas. Sorvia o perfume dos cantos. Inclinou-se, abriu a boca e com a língua sentiu a frieza de uma superfície lisa, metálica. Sentiu os contornos. Moveu lentamente a língua de baixo pra cima num longo gesto. Levantou-se e, levemente tonta, caiu em pé sobre a parede. As mãos puseram-se a sentir a aspereza macia e meio aveludada do que não via. Uma leve dor instalou-se sobre seu ombro esquerdo. Agachou-se e deitou-se espalhada no pelo macio. Enroscou-se sobre si mesma e chorou. Chorou o silêncio da pergunta sem resposta. Chorou as respostas que não perguntou. Chorou a presença daquela ausência dolorosa. Chorou e finalmente chorou. Da sua alma um botão que mais tarde chamou de alívio, de certeza. E pensou que não trocaria por nada ou por o tudo que lhe oferecessem, aquela sensação de estar viva e sentir dor. Porque isso provava sua existência. Então abriu os olhos e não viu mais nada.

1 de jun. de 2007

Eu queria que isso ficasse entre nós. Não entendo por quê você contou. Era segredo. E agora acho bobo o que era. Só você sabia. E eu. Era o que nos fortalecia [ela disse a mim uma vez falando de segredos e sentir]. Meus pés não são bonitos. Guardo as coisas que gosto numa caixa. Um dia abro a caixa e tudo que ali havia se guarda dentro de mim. Nessas horas fico bela. E até meus pés ficam bonitos. Mas eu não me importo de verdade. E fico até com medo de ter um gato. Tem dias que tudo tem sentido. Te convido para um chá. Comemos biscoito e bolo. Te convido pra um vinho. Ficamos meio embriagados. Te convido pra uma sopa. Lemos poesia. Tem dias que a gente fica triste. Tem dias que a gente fica alegre. Tem dias que a gente não sente nada. Tem dias que faz sol. Tem dias que chove. Tem dias que a gente não lembra. mas apesar de feios os meus pés me aquecem. é por eles que me nasce o calor quando sinto frio. e é por eles que sinto o mar primeiro. eles me sustentam. e com eles percorro a minha vida...

31 de mai. de 2007

Céu sem nuvens. Cem nuvens no céu.
Ou um ou outro. Mas o céu é tão grande. É, mas o chão do céu que é agora no Japão não é o mesmo. Quanta tolice. Claro que é. Só muda a luz. Com quem você fala? Com você mesmo. Dentro da cabeça há uma legião. São muitos. Somos. Quando não há nada pra chorar nem pra rir, dói. Porque ‘quer-se’ ser o tempo inteiro. Oh! Dói-se. Mas é uma dor inventada. Uma dor de quem não suporta não sentir nada. Então inventa-se a vida. Porque senão, morrer-se de tédio. E o tempo que se demora pra perceber o tédio é um crime. E inventa-se a alegria. Mas é uma alegria tola. É preciso ser muito corajoso pra deixar-se ser tolo. Ou não. Porque ser tolo é uma boa oportunidade para crescer. Viver tolamente é que não dá. Basta ser tolo uma vez para cada coisa.
Nenhum azul no céu. Isso aqui é quando não há nada. Nada. Nada. Apenas a vontade de. essa vontade de 'viver à beira de'.

29 de mai. de 2007

só pra falar do amor que sente...

Mais uma vez atrasada. Odiava atrasos. Talvez devesse andar com um relógio. Mas odiava relógios. soubera q os de pulso são mudos. Os antigos, de parede, que cantam a cada hora falam do tempo que escorre entre a vida. Não queria mesmo relógios. O que mais detestava em estar atrasada era que apreciaria menos a beleza do mundo. Gostava de olhar as cores e flores. Gostava de brincar de conversar com borboletas. Precisava resolver a sua vida com o tempo. Precisava entrar num acordo. Depois pensaria como. Uma outra hora. Um outro tempo. Por hora só queria um tempo. E queria resolver as coisas rapidamente. Era uma manhã como outra qualquer. Mas diferente. A temperatura, amena. Os barulhos, bons. As pessoas, absortas. As borboletas, o céu, as árvores e os canteiros furtivos, continuava amando. [Sentia-se aliviada porque sabia que enquanto olhasse as coisas simples estava salva pelo amor. Ela tinha vontade de fugir do amor que sentia. Às vezes tinha. Mas era amor. E o amor é tão bom. Cada vez que ela tentava, fortalecia ainda mais a certeza do amor. Ela andava desconfiada que encontrara o amor de uma vida. Não sabia ao certo, mas sabia que era amor. Amor é quando a gente quer ver o outro feliz. Amor é quando, em detrimento da própria felicidade, a gente cresce. Mas a gente cresce feliz. Amor é quando a gente sabe do que o outro fala quando fala do amor que sente. Amor é quando a gente relembra juntos a mesma sensação de um beijo da semana passada. Amor é quando a gente chora mais. Amor é quando a gente fica furiosa e jura que vai mandar o outro se fuder, pessoalmente, e quando olha na cara diz ‘eu te amo’ sussurrando no ouvido. Amor é quando a gente tem certeza ou nem tanta certeza assim. É quando a gente diz ‘eu te amo muito’ e acha que muito é pouco. É quando a gente sente o crepúsculo. Afinal, o que mesmo precisava decidir? A coisa mais sensata a fazer era poder beijar seu amor diariamente. Ah! E ela sabia que amor é muito mais. Porque quem ama sabe do amor que sente]. Pior que o atraso era pegar o ônibus errado. Agora sim estava perdida.

23 de mai. de 2007

olha.
o que você vê?
antes de tudo gosto de dizer isso que vem a ser.
porque descobri tanta coisa. é um susto viver e viver e viver.
[então quero contar histórias. ou seria escrevê-las?] eu não sei contar.
eu não sei te deixar boquiaberta numa linha só. porque eu quero te deixar boquiaberta numa linha só.
e descubro que não há isto que vem a ser sem eu. e meu eu, por hoje, é medíocre. lamento. [sinto nada] é muito!
eu posso contar numa golfada. descobri que quando sofro na adolescência vivo-a tardiamente, ela determina minha identidade. preciso vivê-la, nada pode ser feito.
e descobri que as volutas são feitas inspiradas nos aspirais e dão a idéia de transição. aquilo que está mudando.
e descobri que não preciso ter medo, mas tenho. medo de meu medo.
e não quero que seja sempre assim. falando tanto de mim.
quero falar começando com 'era uma vez'. quero te distrair. te atrair. te trair. e sair.

era uma vez uma menina que amava uma menina. [e uma menina que amava uma menina].um dia de prata caindo na cidade a menina voou sobre a cidade molhada. a menina pousou na janela da amada. elas se olharam e lançaram beijos e foi tantos desejos. e de lá, bem de baixo, um menino lançou uma pedra. a pedra acertou o coração da menina. a menina caiu. o menino cuidou dos seus ferimentos. a menina amou o menino. mas um dia comeu metade do coração dele. a outra enviou por uma pomba à menina que ficava na janela. ela comeu também. e nelas o menino viveu. e elas viveram nelas. uma outra história.